Ergueu a tampa. O leve rangido da dobradiça, há muito gasta, denunciou a abertura da pequena e empoeirada caixa de madeira. Retirou de lá, cuidadosamente, todo o seu conteúdo. Era frágil. Ao tocar o pequeno embrulho, as mãos se aqueceram de ternura. Manuseava com cuidado o pequeno espécime. Todo enrolado em papel de arroz com uma fita de seda negra e um belo laço, estava o pequeno, mas poderoso, objeto. Envolveu-o nos braços e levou aos lábios. Beijou-o. Pousou os olhos na pequena criatura pulsante que segurava com todo o cuidado. “Como pode haver tamanha ternura em tão pequeno pedaço de vida?”, perguntava-se. Apaixonara-se. A leveza que sentia ao levantar aquilo quebrantava suas defesas, sentia-se exposto. Voltou-se para a caixa: invólucro daquilo que para ela era a Perfeição. Aos seus olhos, era perfeita. Não tinha como não ser perfeito: tudo o que mais prezava estava amarrado pela fita de seda negra. Será que o pequeno embrulho haveria de se expor de forma tão própria e profunda como ele gostaria? Um pequeno zumbido saía do embrulho. Abaixou-se e encostou o ouvido na pequena criatura. “Que palavras bonitas saem dela!”. Essa coisa é única. Não devo perdê-la. Insubstituível. Precisava ser dono daquela caixa. E de seu conteúdo. O melhor seria trancafiá-lo num cofre, passar um anel de ouro. Precisava tê-lo consigo. Nada mais importava a não ser a caixa e seu pequeno embrulho. Tomou coragem e espiou pela fresta no papel de arroz. Sim! Era um coração que batia! Uma voz feminina pulsava lá dentro. Doce, calma. Colocou junto ao seu. Pulsavam como um só ser. A alegria invadiu-o de tal forma que lágrimas vieram aos olhos, instantaneamente. Gota após gota, os pingos escorreram pela face e repousaram sobre as mãos quentes fechadas no entorno da caixinha e de seu conteúdo. O mais impressionante é que para abrir a simples caixinha não precisara esforço. Com um simples olhar, a tampa abriu-se para ele. Não havia tempo. Era só ele, a caixa, o pequeno ser e a Eternidade. Até que. Sim, até que. O que? A caixa aqueceu de tal forma que lhe queimou as mãos. Largou, de repente o embrulho. Horrorizou-se. O papel tingira-se de um vermelho morto, doentio. A voz feminina que antes sussurrava coisas belas cessou e, em seu lugar, um grito terrível. Vários gritos em sucessão. O desespero e a angústia se apoderaram do homem. Pegou a caixa novamente, o embrulho gritava, e a tampa queria fechar-se. Tentou, chorou. Mas, sem remédio, a tampa lacrou-se para sempre. A pequena criatura, que quem sabe chegara a amar, revelou-se algo terrível. Não houve opção. Foi necessário antes que aquilo corroesse sua Alma, seu próprio Ser. Mal se fechou a caixa sentiu um sopro doce. Olhou na direção do sopro e o que via ele no horizonte? Uma luz dourada. Caminhou até ela. Outra caixa. Adornada de pedras preciosas. Bastou um olhar e a tampa se abriu. A ternura retomou seu ser. E assim foi.
O tal homem ainda lá está: passa a Eternidade a encontrar e abrir caixas a procura daquela que, for fim, seja a correta e possa se fundir ao seu próprio coração.
Que trágico!! hauahaauhauahaau!! mas adorei, muito bom!!
ResponderExcluirÉ trágico, mas é a realidade…xD
ResponderExcluirGrato pela visita ;)
Beijos
gostei muito do tema
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