'Heróis do Mar', não por acaso, mas por vocação
Por Luiz Nascimento*
No texto anterior desta série “Desvendando Portugal”, prometi que falaria sobre a vocação imigrante dos portugueses. Aliás, um dos pontos que chamou a atenção do responsável do blog, meu amigo Diego Moura, para que fizéssemos essa série de textos sobre Portugal. No Brasil, há mais portugueses e descendentes diretos de lusos do que muitos brasileiros imaginam. A maior parte dessa concentração de imigrantes portugueses encontra-se nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No início do mês de junho, com as eleições legislativas em Portugal, alguns dados sobre os portugueses no Brasil começaram a ser divulgados e espantaram a própria colônia lusitana.
[caption id="attachment_2197" align="alignright" width="300" caption="Imigrantes portugueses"]

Nas últimas eleições, por exemplo, os portugueses residentes no Brasil tiveram direito a eleger um deputado da imigração, por isso tais dados acabaram sendo divulgados. Infelizmente uma ínfima parcela desse grande contingente de portugueses em São Paulo conseguiu votar. As cédulas para voto são enviadas diretamente às casas dos imigrantes portugueses via correio, só pode votar aquele que recebe as cédulas. Mesmo se um português estiver apto a voto, não poderá exercer este seu direito caso não receba tais cédulas. E foi isso que aconteceu, pouquíssimos portugueses conseguiram votar nessas últimas eleições. Uma das promessas dos atuais deputados da imigração é mudar este processo eleitoral dos imigrantes, para que consigam fazer valer sua representatividade.
Pois bem, grande parte dos descendentes de portugueses radicados no Brasil já representam a terceira geração de famílias lusas. O maior contingente de imigrantes portugueses chegou ao Brasil na primeira metade do século XX, principalmente entre 1930 e 1960.
[caption id="attachment_2199" align="alignright" width="293" caption="Salazar"]
![Salazar[1]](http://pensamentos2010.files.wordpress.com/2011/07/salazar1.jpg)
É natural pensar que esse êxodo deveu-se à ditadura salazarista vigente no período. Em parte sim, mas não é o maior dos motivos. Os portugueses possuem uma vocação natural para a imigração, desde sempre foi assim. As famílias portuguesas são acostumadas a terem jovens imigrando para outros países da Europa, afim de construir sua vida e a estabilidade financeira, retornando a Portugal na velhice.
Grande parte dos portugueses têm exemplos na família, há vários lusos no Brasil que possuem familiares em outros países, todos portugueses em busca de construir sua vida. Foi com esse pensamento, com essa cultura enrustida em sua formação, que grande parte dos portugueses veio ao Brasil no século passado. Principalmente porque o Brasil, no início do século XX, gozava da fama de grande acolhedor de imigrantes – italianos e japoneses, por exemplo - e era tido como o país onde “o dinheiro dava em árvore”, sem contar com a facilidade da mesma língua.
[caption id="attachment_2200" align="alignright" width="207" caption="Visto de imigração - clique para ampliar"]

França e Suíça são outros grandes redutos de portugueses, para termos exemplos europeus. Na própria Europa, o povo português é visto como trabalhador, pois são em grande parte imigrantes que voltam a sua terra após conseguirem estruturar suas vidas e suas famílias. A Venezuela é outro país sul-americano, por exemplo, que conta com um número enorme de imigrantes portugueses. Por lá há até uma cidade chamada Portuguesa, onde grande parte desses lusos e seus descendentes residem.
Em São Paulo, por exemplo, os portugueses contam com uma colônia muito forte e organizada, apesar de não se concentrar em bairros específicos – como os japoneses na Liberdade e os italianos na Bela Vista e Mooca – e não terem uma visibilidade tão grande. Os portugueses de São Paulo são responsáveis por uma grande e representativa parcela do ramo alimentício e imobiliário da cidade. A panificação, por exemplo, é dominada pelos portugueses. Mais da metade das padarias e grandes panificadoras da capital paulista ainda pertence a portugueses ou filhos de lusos. Isso sem contar com grandes empresas no ramo de construção e comércio, fundadas por portugueses e ainda mantidas por familiares, como o Grupo Pão de Açúcar e a Votorantim, só para citar dois grandes exemplos.
Há mais portugueses por trás de grandes empresas brasileiras do que imaginamos. A comunidade portuguesa de São Paulo desempenhou um papel importante na evolução da cidade ao longo do século passado, inclusive com uma relativa força política. Naturalmente essa força foi se perdendo ao passo que os descendentes, já nascidos no Brasil, foram tomando frente nos negócios de suas respectivas famílias e organizações portuguesas. A força dos portugueses em São Paulo chegou a alcançar níveis culturais muito altos para uma colônia descentralizada. Há ainda grandes grupos culturais portugueses que trabalham com o intuito de manter uma maior ligação entre os lusos. O futebol talvez tenha sido o meio mais forte de se fazer isso acontecer, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, há que se destacar a proporção que tomou a Portuguesa, não só no futebol e no esporte de um modo geral, mas abrangendo também a área cultural. A tradicional Festa Junina da Portuguesa, por exemplo, que ainda preserva muito da cultura musical e gastronômica lusitana, foi tombada há não muito tempo como Patrimônio Cultural de São Paulo. Na cidade de Santos, por exemplo, também há um grande contingente de portugueses, que ainda mantém suas tradições, mas não com a mesma força de anos atrás. Os portugueses, por mais que não pareça, vivem em uma realidade mais fechada, mais restrita. Talvez por isso não se tenha, no Brasil, uma noção exata do enorme tamanho da comunidade.
Assim como a questão da nostalgia, do saudosismo e do pessimismo, que são marcas da cultura portuguesa – um tema que ainda pretendo esmiuçar nesta série – a questão da imigração também é uma marca cultural de Portugal. Não há uma estimativa exata, mas há quem calcule que exista ao redor do mundo, entre portugueses e filhos, praticamente a mesma quantidade de lusos que vivem em solo português. Brasil, Venezuela, Canadá, Africa do Sul, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, Espanha, França, Suíça e Alemanha são alguns dos países que possuem uma colônia portuguesa muito forte e representativa. Um fato que por aqui muitos desconhecem.
[caption id="attachment_2195" align="alignright" width="288" caption="Camões"]

A imagem de Portugal como um país pequeno territorialmente e, por consequência com uma população limitada, cai por terra quando nos aprofundamos na cultura lusitana. Essa alma desbravadora imortalizada por Camões, esse espírito de 'Heróis do Mar', como apregoa o próprio hino português, é muito mais do que apenas um ode à uma nação, mais sim uma tradução da cultura lusitana.
* Luiz Nascimento – Estudante de jornalismo, brasileiro de nascimento, com nacionalidade portuguesa. Ligado à comunidade portuguesa de São Paulo, neto de imigrantes lusos e sempre em estreito contato com Portugal.
Não vejo que importancia tem isso tudo que ai foi escrito...E dai? Aqui nem lembramos que Portugal existe e aliás lamento falar esta língua que além de inútil é horrorosa,,,
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