Malcolm, Mubarak e Obama: A Revolução já é tuitada
Emerson Damasceno
De Fortaleza (CE)
Quando Malcolm Gladwell duvidou do poder de transformação da internet em artigo do ano passado na The New Yorker, já havíamos feito uma provocação aqui na coluna, citando o caso do Wikileaks como prova contrária. Os acontecimentos dos últimos dias, envolvendo a Tunísia, Egito e espalhando medo nas ditaduras vizinhas travestidas de monarquias e repúblicas, mais uma vez mostram que o guru ocidental estava errado. Quando fez comparações às alianças existentes em movimentos civis dos anos 60 nos Estados Unidos da América com os círculos de relacionamento existentes através a internet, Gladwell ressaltou fortes elos nos primeiros e desmereceu os últimos. Estava errado mesmo, ou foi ingênuo em achar que as novas tecnologias não têm o condão de estabelecer elos tão fortes quanto os que derrubaram a segregação racial que incendiou os EUA no século passado.
Os protestos que vem tomando conta do Egito, minando as forças políticas longevas do Presidente Hosni Murabak, não deixam de ser mais uma prova de que a nova era da informação veio para ficar e seu alcance ainda é uma incógnita para todos. E é diferente sim. Ao mesmo passo que Cuba e China tentam à sua maneira impedir a internet livre para sua população, o emblemático "desligamento" da internet no Egito, tentativa desesperada de cessar o turbilhão de protestos e críticas ao status quo cuja base maior é a Rede, mostra que a livre informação faz mal sim a qualquer país que pense a democracia como uma mera palavra. Enquanto isso, na Jordânia, antes que a onda política lhe atinja, o rei Abdullah II tratou de modificar o governo, buscando acalmar as ainda tímidas manifestações em seu reinado.
As redes sociais vêm desempenhando mais uma vez um papel fundamental. Mesmo com a internet "desconectada" pelo governo egípcio, o Google e o Twitter (mais uma vez ele) conseguiram dar voz aos dissidentes, ao criar uma conta específica para que as pessoas, através de seus telefones, enviassem recados transmitidos pelo perfil @speak2tweet. As mensagens gravadas estão disponíveis para quem acessar o Twitter. O caso lembra um fato recente ocorrido logo após um ataque sofrido pelo site Wikileaks, que o tirou do ar. Somente o perfil no Twitter serviu de elo de ligação com o público do site, até que depois vários "mirrors" (espelhos) do site, começaram a ser publicados em outros endereços da Web.
Vale lembrar também que os EUA estão bem mais envolvidos com os protestos que varrem o Oriente Médio, do que possa parecer. Um dos planos do Governo Obama, orçado em alguns milhões de dólares, é relativo à livre internet de países considerados não democráticos, principalmente os ligados ao Islamismo e à China. Fontes do Governo americano declararam que já atendem mais de 40 países, inclusive com programas e instruções para que os ativistas furem bloqueios de firewall e outras artimanhas utilizadas para controlar a livre manifestação. A posição do governo Obama, entretanto, acaba sendo contraditória quando se trata de seu próprio quintal. Um dos criadores da Web, durante a Campus Party Brasil que terminou na semana passada em São Paulo, foi incisivo ao criticar o plano interno que busca justamente o controle da internet. Tim Berners-Lee é um dos ativistas contrários ao COICA (Combating Online Infringement and Counterfeits Act), que encontra forte polêmica nos EUA, pois na prática poderá ferir a privacidade dos usuários e evidenciar um verdadeiro controle Estatal da internet. Também não deixa dúvida alguma a posição dos EUA quando a internet livre lhe causa transtornos, como é o caso do Wikileaks de Julian Assange.
O que se pode dizer de tudo isso? Enfim, Talvez nem Gladwell pensasse que sua frase pudesse vir a ser colocada à prova de forma tão rápida, afinal o autor de The Tipping Point é uma espécie de guru do pensamento moderno para muitos no Ocidente. Além disso, a internet livre vem causando cada vez mais baixas, e creio que a tendência será piorar. A chegada da banda larga em Cuba, aliás, justamente agora, através de um acordo com a Venezuela de Hugo Chavez, mostra isso. Segundo informações oficiais, será uma internet rápida, mas, controlada pelo Estado, por razões econômicas, dizem. A outra razão, é que o embargo econômico à Ilha de Fidel por parte do Tio Sam impede que cabos de fibras óticas cheguem a Cuba. Mais uma das incoerências da geopolítica, aliás.
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