sábado, 29 de janeiro de 2011

Não se esqueça de lembrar...

Do Observatório da Imprensa



A imprensa adora esquecer


Por Alberto Dines em 28/1/2011


Articulistas embasbacados e desprovidos de qualquer senso crítico afirmaram nos quatro cantos do mundo que o Wikileaks mudava tudo. A diplomacia, a política internacional e o próprio jornalismo jamais seriam os mesmos.


O sucesso do site de vazamentos criado pelo hacker Julian Assange foi tamanho que dois dos três jornalões nacionais (a Folha de S.PauloO Globo) não se vexaram em pegar carona no grupo dos cinco veículos globais que a ele se associaram.


Exatos dois meses depois, nesta pátria dos modismos ninguém quer mais ouvir as fofocas com data de validade vencida. Prova disso são os documentos vazados na terça-feira (25/1) contendo a opinião da ex-presidente chilena Michelle Bachelet a respeito de governos e líderes latino-americanos.


Sobre a ex-colega argentina Cristina Kirchner, a chilena disse que ela "tende a acreditar nos rumores e textos caluniosos publicados na imprensa e faz comentários desastrosos em público". Para ela, a democracia argentina "não é robusta e suas instituições são frágeis".


Pouco destaque



A respeito do nosso país, Michelle Bachelet foi ainda mais incisiva: "O Brasil goza de uma fama desproporcionada como mediador em conflitos regionais". Para ela, Lula é um zorro (raposa), inteligente e encantador, mas sua então candidata, Dilma Rousseff, distante e formal.


Publicadas com destaque pelo diário espanhol El País na quarta-feira (26), as candentes opiniões de Bachelet vazadas pelo Wikileaks ficaram de fora do noticiário de quinta-feira, no Brasil. A torneira giratória de Julian Assange já não tem charme, breve estará apenas nas colunas sociais.


A imprensa brasileira adora badalar e adora esquecer. Sobretudo as tragédias: duas semanas depois do maior desastre já acontecido no país, a tromba d’água na região serrana do Rio, há pelo menos dois dias só consegue produzir uma chamadinha na capa do Globo. Nos jornais da Paulicéia, nem isso.


 

Um comentário:

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