Animação peca pelo exagero em alguns aspectos, inclusive estereótipos
O primeiro filme 3D do Brasil lança mão da natureza. No enredo, 2 amigos, “Stress” e “Relax”, saem viajando por alguns estados brasileiros em busca de uma árvore (Jequitibá Rosa). Passam por Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará, Bahia, Amazônia, Brasília, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Brasil Animado aposta dos estereótipos para mostrar toda a variedade de brasileiros, inclusive, sua fisionomia e jeito próprio de falar. Mas será que colocar um garçom cearense, retratado com a cabeça quadrada, quase igual a uma mesa, é o caminho certo? Penso que não. Existem outras formas de trabalhar com a diversidade nacional sem exagerar, como não carregar demais nos sotaques, por exemplo.
O exagero já começa pela dicotomia “Stress” e “Relax”. O carioca, com seu sotaque exagerado, que “deixa a vida levar”, só quer saber de “curtir” as belezas naturais, num estilo meio Zé Carioca, meio hippie, e o paulista, morador de Santa Rita do Passa Quatro (deixou de viver na Capital, pois a cidade é muito cara), estressado, guloso, só quer saber de lucrar e trabalhar, não se diverte. O carrancudo representante da terra da garoa só afrouxa quando vê mulheres – principalmente as gaúchas -, em especial, Giselle Bündchen.
O filme é “enciclopédico”. Quem assiste se vê diante de um Globo Repórter 3D misturado a desenhos. Pesam demais as estatísticas e os inúmeros dados. Como você pretende prender a atenção, especialmente, das crianças com uma montoeira de datas, altitudes, quilometragens e informações do tipo “você sabia...”?
O merchandising é muito presente também. O carro em que as personagens viajam é um Gol vermelho comprado na Caltabiano (está escrito no veículo). Além disso, os amigos comem em locais indicados pela Veja São Paulo “Comer e Beber”, vão ao São Paulo Fashion Week e frequentam estabelecimentos que aceitam Mastercard (o papel inconfundível da empresa de cartões de crédito, um pouco desfocado aparece colado na parede de um lugar).
Agora, é inegável que a estética do filme é muito boa. As belíssimas paisagens em três dimensões te dão a impressão de estar em uma janela, vendo desde o bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, passando pelas cidades históricas de Minas Gerais, até Canoa Quebrada, no Ceará, ou Porto de Galinhas em Pernambuco de forma muito realista, quase presencial. Alguns toques de humor e interatividade são bem feitos e a estratégia para obtê-los também: há um momento em que a câmera foi posicionada no Centro de São Paulo e parece que ela está abandonada, apenas filmando as pessoas que passam. Um senhor passa, olha para câmera e uma narração faz comentários como se estivesse vendo o público. Ele passa. Quando se pensa que não voltará mais, aparece ainda mais perto da câmera, examinando minuciosamente “quem estará do outro lado”.
Não sei se é o tipo de história que agradaria crianças, pois, apesar de ser animação, é arrastada e “manual de turismo”. Talvez os adultos considerem a história fraca demais pra se prenderem por 1 hora e meia no cinema.
Veja o trailer:
[...] This post was mentioned on Twitter by Diego Moura, Diego Moura. Diego Moura said: @vassilizai Brasil Animado: enciclopédia em 3D: http://wp.me/pY7QE-kp [...]
ResponderExcluirAdorei seus críticos comentários! Muitas pessoas sentem-se desconfortáveis em emitir críticas negativas a uma "produção brasileira", por ser brasileira, como que se fosse ser linchados se não gostassem!
ResponderExcluirSou muito sincera em dizer que NÃO GOSTEI do filme! Achei brilhante seu comparativo ao "Globo Reporter 3D" e, mais ainda, aos excessos depreciativos da caracterização dos personagens principais, acentuando ainda mais uma suposta rixa entre paulistas e cariocas.
Me doeu o bolso ter gasto esse dinheiro (3 ingressos: eu e meus dois filhos) para assistir a um "desenhinho cultural" para levantar a bandeira de incentivo às produções nacionais!
E o que as crianças acharam?
ResponderExcluirAgradeço o comentário e os elogios.
ResponderExcluirNosso cinema é oito ou oitenta. A imagem do Brasil passada pelos filmes é sempre de violência. Daí vem uma animação que só faz exaltações de paisagens naturais e diversidade cultural de algumas partes do país, e de forma equivocada.
Abraço!