Post do blog Jornalismo B
Jornalismo B, Dialógico e Diário Gauche debatem cobertura eleitoral
20 outubro 2010
Na tarde desta quarta-feira participei de uma mesa redonda sobre a cobertura das eleições, na Semana Acadêmica da Faculdade de Comunicação da UFRGS. Junto comigo, estiveram Claudia Cardoso, do blog Dialógico, e Cristóvão Feil, do Diário Gauche. Cerca de 30 estudantes assistiram ao debate, no auditório da faculdade. Gostaria de explicar aqui o que os outros dois participantes falaram, mas creio que nada melhor do que a leitura de seus blogs para entender como pensam, e o espaço aqui seria curto para tudo o que foi levantado. Por isso, vou resumir aqui rapidamente o que falei, destacando a importância desse tipo de encontro para que aconteça a fundamental troca entre estudantes e palestrantes e entre os próprios debatedores.
São três os eixos principais da disputa midiática no Brasil: a mídia hegemônica, a mídia contra-hegemônica, e o governo. A questão que se impõe a partir da cobertura eleitoral que está para se encerrar é o que acontecerá daqui pra frente.
Nesta campanha, vimos a imprensa dominante organizar-se contra o governo Lula e a candidatura de Dilma Rousseff (PT) principalmente a partir de três dos seus jornais (Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo), de duas de suas revistas (Veja e Época) e de uma emissora de TV aberta (TV Globo). Através de acusações constantes em reportagens e ataques diretos em editoriais, os jornais cumpriram um papel forte na despolitização da campanha, pautando o que se coloca em debate com temas que pouco ou nada tem a ver com projetos amplos para o país.
A TV Globo atuou mais na pré-campanha, mas suas entrevistas com os candidatos no primeiro turno, em especial no Jornal da Globo, mostraram jornalistas preocupados em atacar Lula e Dilma e defender José Serra (PSDB). Outros exemplos também podem ser encontrados em posts anteriores do Jornalismo B.
Em relação às revistas, vimos Veja e Época com atuações de baixo nível contra o PT, enquanto Carta Capital e Isto É alinharam-se aos petistas, sinalização de que o Partido dos Trabalhadores vem deixando de ser contra-hegemônico para transformar-se definitivamente em mais uma elite.
Outro eixo é a mídia alternativa, representadas especialmente pelos blogs. Muitos blogueiros tiveram uma atitude de alinhamento automático à campanha de Dilma, calando perante qualquer possibilidade de crítica ao PT, mas, ainda assim, tivemos uma boa quantidade de comunicadores que se mantiveram independentes, questionadores, mesmo que defendendo candidaturas específicas, como a da própria Dilma. É saudável e natural que assumamos posições, mesmo partidárias, mas não se pode perder de vista que a militância política precisa se dar também fora da esfera partidária, e que, se a imprensa alternativa perde a preocupação com o questionamento, transforma-se em mídia oficial.
O terceiro eixo é o governo. O que se pode esperar de Serra, caso vença? Nada, a não ser a piora das relações com os movimentos sociais e o fim inequívoco de qualquer possibilidade de diálogo. Como vimos em outros governos do PSDB, a lógica é a da repressão, mobilizações são sempre caso de polícia, nada mais. A mídia entra nesse mesmo saco, e qualquer avanço torna-se muito mais difícil. Com Dilma na presidência a perspectiva não é muito melhor. Foram oito anos de governo do PT sem qualquer tentativa de modificar os marcos de mídia no Brasil, como acertada e democraticamente vem sendo feito em outros países da América Latina. A democratização da comunicação é uma necessidade, mas Lula não quis, e Dilma tende a não querer, enfrentar os donos da mídia brasileira para buscá-la. Ainda assim, é claro que a possibilidade de diálogo é maior do que com Serra, e as pressões de movimentos organizados têm mais chances (ainda que remotas) de surtir algum efeito.
Dentro desse cenário, o futuro que espreita é duvidoso. É preciso, em primeiro lugar, que, passadas as eleições, os comunicadores contra-hegemônicas voltem a ser predominantemente independentes, críticos a qualquer governo que assuma. A pressão sobre as entidades governamentais é uma das duas funções essenciais que devemos assumir. A segunda é o enfrentamento à mídia dominante, unido à busca por mobilizar e esclarecer a sociedade sobre a necessidade de repensar a comunicação brasileira.
Postado por Alexandre Haubrich
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