sábado, 24 de julho de 2010

Admirável mundo novo?

Há pouco postei sobre matéria publicada na Folha que fala a respeito de uma peça teatral feita sem atores presentes. Explico: as imagens em 3D de apenas dois atores formavam diversos rostos flutuantes à frente de um fundo negro (nem palco havia). Seria isso considerado teatro? O diretor da “peça” diz que sim.

[caption id="attachment_556" align="alignright" width="178" caption="Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley"][/caption]

Coincidentemente, hoje, terminei de ler a obra Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Um livro excepcional. Em meio a diversas citações de Shakespeare, a história se passa em uma sociedade humana no futuro, em que Deus foi substituído por Ford (do “fordismo”- produção em série). Nesse “novo mundo”, não há doenças, tristezas ou desapontamentos. Por meio de avançadas técnicas científicas, o envelhecimento foi vencido, e a morte é agradabilíssima. Não há famílias (pai e mãe são consideradas palavras obscenas e engraçadas) e o Estado “produz” seres humanos, condicionando-os de acordo com as funções que exercerão no sistema. As castas vão de Alfa-mais, o topo social, a Ýpsilon, a base da pirâmide social. Livros e outras formas de arte não fazem parte do cotidiano social, mas sim, perfumes, músicas “sintéticas”, cinemas sensíveis e uma enorme quantidade de esportes tecnológicos. A base social é a estabilidade e o consumo. Vê-se muito da crítica ao sistema da época em que o livro foi publicado (1930, um ano após a quebra da Bolsa de Nova Iorque), contudo se levarmos em conta inúmeros aspectos tratados nos livros, a atualidade impressiona e faz pensar, principalmente os conceitos da moralidade vigente no meio social. Tudo vai bem, até que alguns acontecimentos ameaçam por em risco a tão cultuada estabilidade (“toda mudança é perigosa”). Será que esse mundo novo é realmente admirável?


A substituição daquilo que é humano, físico pelo sintético seria necessariamente benéfica às pessoas? Será que vale a pena substituir os atores de uma peçapor meras representações geradas por uma máquina? Não se estariaindo longe demais? São boas intenções, dizem. Mas, delas, o inferno está cheio.

6 comentários:

  1. Belo texto! Qual será o limite do nosso mundo novo?

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  2. Acho que aquele negócio de "o céu é o limite" cresceu demais. Agora, "corporações são o limite"; "política corrupta é o limite". Tenho até medo de saber o que virá...

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  3. O teatro e a vida são feitos por pessoas de verdade. Onde estão essas pessoas?

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  4. aahh, vc me passou seu blog no jogatina..rsrs eu disse que vinha conferir, gostei!

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  5. Poxa vida, que bacana! hehehe
    Obrigado pela visita, de verdade! =)

    Beijos

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  6. Geraldo Corrêa de Bittencourt26 de dezembro de 2010 às 10:09

    Sem livros, sem raciocínio, sem ambição. E todos receberão a sua cota o seu quinhão proporcionado pelo Estado o nosso amigão. E com a exclusão do desejo o povo será feliz
    e oficializamos o nosso "somma" Cachaça com aniz. Mas alguém que não é poeta ainda consegue raciocinar. com esse calor tropical quem vai trabalhar. E nosso Aldous Guarani solícito responde: Todos irão trabalhar um mês por ano. Uai e como ficam as férias? Arrrs.

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