
Não é preciso dizer que o trânsito em São Paulo é péssimo. Inclusive, semana passada foi publicada uma pesquisa que coloca a cidade paulista com o sexto pior índice de tráfego entre 20 cidades mundiais (veja aqui a pesquisa). E, devido à qualidade deplorável em que se encontram os ônibus e trens e à pouca quilometragem de metrô, carteiras de habilitação (categorias A e B, motocicletas e carros, respectivamente) continuam a ser expedidas por aqui, pois entre depender de automóveis encalacrados nas vias e transporte público ineficiente, opta-se pelo primeiro.
Para concretizar o “sonho da habilitação”, o aspirante a condutor dirige-se a uma autoescola e dá início aos processos burocráticos para conseguir a permissão para dirigir. A lista de procedimentos começa com a entrega da documentação exigida ainda na autoescola, depois disso segue-se um pré-cadastro no próprio DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito), onde são digitalizadas sua foto, impressões digitais de todos os dedos das mãos e assinatura. Após ir ao Departamento, – e ficar lá por quase duas horas – tem-se a participação em um curso com duração de 45 horas/aula que inclui desde aspectos mecânicos do carro até direção defensiva e prevenção de acidentes. Terminadas as aulas teóricas, há uma prova com 30 questões alternativas. Se aprovado, o candidato agenda 20 aulas de direção e presta exame de ordem prática.
Dessa enorme quantidade de percalços, concentro-me na formação teórica dos condutores. Como concluí esse procedimento ontem, resolvi me aprofundar em questões que acho pertinentes e que não têm sido abordadas pela imprensa, especialmente a qualidade dos materiais (vídeos e apostilas) usados no decorrer do curso.
A parte audiovisual é predominantemente antiquada – fitas VHS passadas para DVD. O material escrito, apesar de estar atualizado e em conformidade com a legislação de trânsito, traz gravíssimos erros de português. Ao entrar em contato com os órgãos competentes para pedir esclarecimentos, me vi em um jogo de “batata quente”, pois o DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito, localizado em Brasília), por e-mail disse que: “O Contran [Conselho Nacional de Trânsito], por meio da Resolução 168, definiu a grade horária do curso de formação de condutores. Porém, a elaboração do material com base nesse conteúdo fica a cargo do DETRAN”. Ao buscar o Departamento de Trânsito de São Paulo muitas dificuldades: (a) os três telefones oficiais só dão sinal de ocupado (2189 9800 - 2189 9801 - 2189 9802), (b) não tem números para contato no site do DETRAN e (c) o primeiro e-mail que mandei para a assessoria de imprensa não foi respondido. Finalmente, achei o “disque-DETRAN” (3627-7000), conseguindo, enfim, o telefone da assessoria. Ao ligar, imediatamente, a funcionária respondeu à mensagem na qual eu questionava de quem seria a responsabilidade pela elaboração e fiscalização de materiais relativos aos CFC’s (Centro de Formação de Condutores), eis a resposta: “Todo o material contido nas (sic) CFC's é de responsabilidade deles. Orientamos que entre em contato com o Sindicato das Autoescolas para sanar às (sic) questões.” Uma entidade joga para a outra as atribuições de responder pela formação dos futuros motoristas. Por fim, entrei em contato com o Sindicato das Autoescolas, o qual informou que é um órgão ligado a questões patronais e que os materiais são de responsabilidade do DETRAN. Horas de ligações para confirmar a negligência dos organismos públicos quando se trata de colocar gente para dirigir ou pilotar.
Especificamente no caso das apostilas empregadas no curso, por telefone, a gráfica responsável pela montagem, publicação e venda do material disse que “a pessoa que faz a verificação ortográfica não executou o trabalho como deveria ter sido feito” e garantiu “a apuração e correção do problema no prazo de dois meses”.
O que fazer? Talvez, DENATRAN, DETRAN e Autoescolas e CFC's em geral devessem se unir para uniformizar o material, pois ainda, segundo o funcionário da gráfica, não existe padronização. Cada instituição escolhe aquilo que julgar mais adequado, porém, vemos uma total falta de fiscalização quanto à correção do conteúdo escrito e à atualidade dos vídeos exibidos. Contudo, com relação aos últimos devo fazer uma ressalva. Há conteúdo audiovisual novo, compatível com a realidade atual, mas misturado a muitos retrógrados e incompatíveis com as necessidades do trânsito brasileiro. Enquanto o instrutor ministra suas aulas focado em formar um bom motorista, o material parece servir apenas de muleta, como se não importasse grandemente, fizesse parte apenas do protocolo.
E ainda se perguntam onde é que está o problema do trânsito brasileiro e por que o motorista é tão agressivo e as vias tão violentas. Por que será?
Por quê será?
ResponderExcluir(Não estou sozinha no mundo! Eu tinha vontade de MORRER em cada erro gramatical que achava na apostila...)
[...] This post was mentioned on Twitter by Andreas Couto. Andreas Couto said: RT @disimo18: Texto novo no Blog - "Ter carteira de motorista é o mesmo que saber dirigir?" http://bit.ly/8Yo6oQ [...]
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