quarta-feira, 3 de março de 2010

A exploração da mídia sobre o Haiti

Entender o Haiti não é simples. O que vemos nos telejornais ou impressos é o resultado de séculos de exploração sob o manto da colonização. Qual a primeira imagem que vem à mente quando se menciona o Haiti? Extrema miséria, pessoas, em sua maioria negras, vivendo em condições desumanas, tropas de paz lideradas pelo Brasil, Caribe, turismo e etc. Não se investiga mais a fundo as causas que levaram a esse quadro desastroso. Algumas pessoas acham que esse país fica na África, seja pela degradação econômica e social dos cidadãos, ou pela cor de pele dos haitianos. Poucos sabem que a independência haitiana foi conquistada com uma luta que durou 12 anos e foi empreendida pelos negros escravos. Derrotaram os colonizadores franceses, que perderam seu maior mercado de venda de cativos (na época, contavam com meio milhão de pessoas trabalhando em regime de escravidão), os britânicos e espanhóis que tentaram assumir o controle da ilha. A Revolução Francesa cruzou o atlântico e inspirou o movimento revoltoso. Esse fato surtiu efeito inclusive no Brasil, levando os governantes a acelerar a abolição da escravatura em solo brasileiro e às políticas de embranquecimento da população, com o intuito de evitar que algo semelhante ao Haiti ocorresse aqui.
Já assolado por todas as calamidades impostas por séculos de colonização, recentemente mais uma provação foi imposta ao povo haitiano: um terremoto de proporções gigantescas atingiu a ilha caribenha. As tropas de paz da ONU coordenadas pelo Brasil estão presentes no Haiti desde 2004 para auxiliar na segurança interna e garantir, por exemplo, que as eleições ocorram sem incidentes. Essa mobilização internacional, residente no país, possibilitou o início dos trabalhos de resgate de pessoas afetadas pelo terremoto com imensa rapidez. Porém, dada a precariedade das construções e total despreparo da população para lidar com um tremor tão devastador o número de mortos ultrapassou os 200 mil.
Oras, e qual foi o papel da imprensa? Encontrou-se um assunto que atrai enorme quantidade de pessoas para a frente da televisão, ou para as bancas de jornal e revistas: sangue, morte e destruição. Faltou sensibilidade jornalística para cobrir o assunto com cautela. Fotos de cadáveres foram feitas e veiculadas com grande velocidade pela mídia. Enfocaram com destaque e grandiosidade a ajuda (?) financeira oferecida pelos países ricos ao Haiti. Foi dado um tom de generosidade para migalhas. Jornalistas (?) competiram para conseguir a imagem mais chocante, impactar o público a qualquer preço. Será essa a verdadeira missão da imprensa? Talvez não haja exagero em algumas abordagens? Afinal de contas, não é todo o dia que acontece uma catástrofe como essa, portanto se deve aproveitar ao máximo, extrair todo e qualquer conteúdo da notícia, mesmo que ela fira aquele que sofre. A ideia é mostrar um país de selvagens, mais ainda após esse terremoto, e não procurar mostrar que aqueles que oferecem migalhas são tão responsáveis por todas essas mortes (por meio dos séculos de dominação e empobrecimento do Haiti) quanto a Terra revolta.

Sugestão de Prof. Toni

2 comentários:

  1. É o Showrnalismo, como diz José Arbex J.

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  2. Acho que outro ponto importante nesta e em outras histórias é o lado de quem vê ou lê a notícia. Este tipo de "Show" como disse o prof. acima, acontece todos os dias e em todos os veículos de informação. Ver um noticiário imparcial, que conta o fato apenas e não insiste na miséria humana é difícil, aliás, existe? Mas o lado do que recebe a notícia... pode ser uma grande "sacada", ora, porque então se dá a notícia, ou as "fofocas" poderíamos dizer assim? Porque tem público para isso. Porque o expectador, ou leitor, alimenta este tipo de coisa. Seria dizer que TEM GENTE PRÁ ISSO!!! E esta reflexão é bastante profunda, onde começa isso tudo? Será que sabemos "filtrar", "peneirar", "separar" o que é relevante do que é supérfluo na notícia? A grande maioria não sabe e se deixa levar pela primeira manchete. Parece-me que em algum lugar, no passado, ou no presente este discernimento e clareza a respeito da visão de mundo que todos nós temos, passou pelos bancos da escola. O que falta também são pessoas críticas. Gente que não se deixa levar pelo SHOW DA MÍDIA OU MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE AÍ ESTÃO.

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