domingo, 24 de abril de 2011

Trilha proibida tem 74 resgates em 1 ano

Do Estadão


Trilha proibida tem 74 resgates em 1 ano


Completar os 28 km da rota indígena entre SP e Itanhaém tornou-se um desafio





Completar os 28 km de uma antiga rota indígena entre Itanhaém, no litoral, e Marsilac, no extremo sul da capital paulista, pelo meio da Serra do Mar tornou-se "troféu" para grupos de trekking de todo o País - mesmo com visitação proibida pela direção do Parque da Serra do Mar. Sem sinalização, a trilha guarda algumas más lembranças para as 74 pessoas resgatadas no caminho desde abril de 2010.





Ayrton Vignola/AE

Ayrton Vignola/AE

Coradi. 'Tem hora que a trilha tem até seis saídas'



Os penhascos de 20 metros de altura e a mata totalmente fechada têm confundido até os mais experimentados montanhistas. No dia 9, o Corpo de Bombeiros localizou seis pessoas que ficaram 52 horas perdidas. Todas estavam com cordas, mapas, barracas e GPS. O tempo que eles passaram sem contato, porém, foi pouco perto dos sete dias e meio que um grupo de Indaiatuba teve de enfrentar no fim de julho.


Os cinco moradores do interior faziam trilhas há duas décadas. Eles sabiam que o percurso era proibido, mas resolveram confiar nos mapas e no guia por satélite. "Eu moro aqui há 24 anos e fiz a trilha várias vezes", afirma o ambientalista Erley Coradi, de 54 anos, morador de Marsilac. "Mas, na Páscoa do ano passado, fui com um grupo de 28 pessoas e iríamos esticar até Mongaguá. Um índio nos guiaria a partir do meio do caminho. Só que depois de duas horas o índio confessou que estava perdido. Ficamos três dias na mata até o helicóptero da PM nos encontrar."


Coradi reforça que a trilha não é turística. Como existe lei federal que proíbe as pessoas de andarem ao lado da malha ferroviária e 8 km da trilha são ao longo de uma linha de trem com movimento de cargas, nenhuma operadora de turismo faz o passeio. O ambientalista ressalta as dificuldades das dez horas da trilha, como "as formigas que sobem nas pernas durante a caminhada".


GPS. Ele também garante que o GPS não funciona no meio da mata. "E tem hora que a trilha tem bifurcações com até seis saídas. Não adianta ter mapa", diz Coradi. "Quando estávamos perdidos no ano passado, ficamos parados em uma clareira da mata. Tinha uma garota com as costelas quebradas, não podíamos sair do lugar. A sorte foi que encontramos as lonas deixadas por alguns palmiteiros e ficamos cobertos."


Os relatos de pessoas que se perderam na trilha e conseguiram voltar sem resgate também são inúmeros nas redes sociais da internet. "Andamos duas horas pelo meio dos túneis da linha do trem, até que vimos uns três homens cortando uma carcaça de Kombi com machados. Ficamos assustados e voltamos", recorda o goiano Hélio Luzzi, de 34 anos.


"Como o curso do Rio Capivari é muito sinuoso e não segue um caminho reto até o litoral, mesmo que você fique perdido e tente seguir o rio não adianta. Ele corre pelo meio da mata fechada até a cidade de Cubatão", fala o comerciante de Parelheiros José Francisco Cardoso, de 46 anos, que fez três vezes a trilha.


Para quem conseguiu atravessar São Paulo até o litoral pelo meio da Mata Atlântica, ficaram as boas recordações. São oito cachoeiras no caminho e a possibilidade de dar mergulhos nas águas cristalinas do Rio Capivari. "Os mirantes a 400 metros de altura com a vista do mar são incríveis", garante o jipeiro Jorge Sampaio, de 29 anos, que fez a trilha em fevereiro. "Mas é para fazer uma vez na vida e só."


Precaução 
Para quem vai fazer uma trilha longa, é bom deixar o mapa da rota planejada com alguém de confiança. Se até certo horário o grupo não ligar, o mapa deve ser entregue ao Corpo de Bombeiros. 






Terra de ninguém

Meu post no Paradoxos da Bola sobre a deficiência das caixas de comentários

Terra de ninguém


Quem ao ler um texto, ver um vídeo nunca ficou morrendo de vontade de xingar a mãe do autor em absurda discordância ou de abraçá-lo e assinar embaixo? Pois é, foi pensando nisso que criaram aquele “treco”, que grande parte dos sites de notícias e blog têm, e fica localizado no fim da página, chamado caixa de comentários.




Um belo espaço. Muitas vezes com um grande limite de caracteres para você colocar sua opinião, incitar algum debate ou chamar o autor do produto às falas. Ou meramente deixar registrada sua indignação/concordância. Mas, nem sempre isso ocorre com respeito e acrescenta elementos para discussões saudáveis.


Li em algum lugar que as caixas de comentários estão para os sites e blogs assim como o a rede de esgoto está para as cidades. E não precisa ser nenhum gênio para constatar o fato. Alguns fatores encorajam o despejo sanitário nesses espaços: anonimato e falta de moderação de comentários.


A imagem a seguir é da página de comentários do Terra, que fala sobre a lesão de Adriano, contratado pelo Corinthians. Provovações, ofensas, homofobia…Tudo garantido pela proteção da identidade – não é necessário possuir dados verdadeiros para comentar. 






No momento, a notícia do Terra tem 1795 comentários. Os repórteres autores da matéria sequer devem olhar algum deles. É um espaço de bárbaros, uma terra sem lei. Você escreve o que quer e está livre de responsabilidades. E principalmente em assuntos que costumam dar brigas feias – como o futebol – isso deveria ser revisto. Seria melhor para a interação entre mídia que produz conteúdo e aqueles que “compram” as ideias.


Isso em grandes veículos é mais frequente, já em blogs menores, muitas vezes, ocorre justamente o contrário: a ausência completa de comentários. Nem positivos, nem negativos. O leitor é muito silencioso quando transita por esses locais. Inclusive, aqui no Paradoxos.


Clique aqui para ler o post na íntegra.

Umbigos e afins

Do Estadão


Luis Fernando Veríssimo



O formato do umbigo




Aquela "pasta" curta e oca que os italianos chamam de "pene" tem este nome porque lembra o pênis, mas não deve ser verdade que a inspiração para o nome veio do pinto pequeno do Davi de Michelangelo. Os mesmos italianos dizem que os "tortellini" têm o formato do umbigo de Vênus, mas este parâmetro, como o pinto do Davi, também não é universal, felizmente. A variedade de umbigos - côncavos, convexos, redondos, alongados, etc. - é, mesmo, uma das coisas que nos diferenciam um dos outros.





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Muitas coisas nos unem. Somos todos bípedes mamíferos. Todos os nossos antepassados, sem exceção, eram férteis. Todos sobreviveram até no mínimo a puberdade e todos tiveram ao menos uma relação sexual, digamos, convencional, e procriaram. Somos portadores de uma linha ininterrupta de DNAs triunfantes, portanto, e essa ascendência idêntica nos permite não só um sentimento de família como um certo orgulho do que conquistamos como espécie. A Natureza e os germes têm feito o possível para interromper nossa linhagem, mas perseveramos e prevalecemos. Pelo menos até agora.


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Nossas diferenças estão nos detalhes. Machos e fêmeas, para começar pela diferença mais óbvia. A cor da pele, a diferença mais superficial e sem importância que existe. E detalhes mínimos, como o formato do umbigo. Sabe-se que há muito mais destros do que canhotos no mundo, mas que tipo de umbigo tem a maioria? E que porcentagem lembra um "tortellini"?


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O umbigo tem causado controvérsias há gerações. Discutiam se nas imagens do Paraíso, Adão e Eva deveriam aparecer com ou sem umbigo, já que não tinham nascido de partos normais e sim feitos por Deus. Uma corrente justificava a presença de umbigos no primeiro casal como uma espécie e "imprimatur" do Criador, um carimbo bem no centro do corpo garantindo o equilíbrio da imagem e a autenticidade da obra. Outros encerravam a questão argumentando que, como Deus tinha criado o Homem à sua imagem, apenas reproduzira em Adão e Eva seu próprio umbigo, e quem ousava especular sobre a origem do umbigo de Deus? Na arte religiosa, os umbigos de Adão e Eva permaneceram. Como símbolo, ao mesmo tempo a marca da nossa ligação vital com o ventre materno e através dele com a nossa ascendência comum, com o cordão metafórico que atravessa os séculos e nos conecta todos ao começo da espécie, e à marca da nossa individualidade.


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O formato do umbigo é uma das pequenas coisas que determinam se somos minoria ou maioria na nossa própria espécie. Podemos pertencer a categorias dominantes ou a pequenas dissidências, sem nunca saber. Quantos homens botam as mãos na cintura quando fazem xixi? Ou uma mão na cintura enquanto a outra garante a pontaria? Somos multidões ou uma confraria que não se conhece? É mais comum abotoar a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima? E comer a casca do queijo? Ou gostar de bife de fígado? Você pode se achar meio esquisito sem suspeitar que a maioria das pessoas tem a mesma esquisitice, ou achar perfeitamente normal mastigar a gravata e não entender a estranheza dos outros. O importante é, minoria ou maioria, nunca perder a consciência de que somos todos descendentes da mesma linhagem, a dos que venceram tudo o que conspirava contra sua reprodução. E temos os umbigos para provar. 






segunda-feira, 18 de abril de 2011

Brasileiro próximo de Homer Simpson
















Da BBC



Brasileiro está mais gordo e bebendo mais, diz estudo


Uma pesquisa do Ministério da Saúde divulgada nesta segunda-feira revela que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o número de obesos aumentaram no país, mas o número de fumantes diminuiu.




Segundo a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que leva em conta as respostas de 54.339 adultos moradores das 27 capitais brasileiras, 48,1% da população adulta está acima do peso, e 15% são obesos.


Em 2006, os índices eram de 42,7% e 11,4%, respectivamente.


O consumo excessivo de álcool no país, por sua vez, passou a ser praticado por  18% da população, ante 16,2% em 2006. O Ministério da Saúde considera consumo abusivo de bebida alcoólica cinco ou mais doses na mesma ocasião em um mês para os homens e, para as mulheres, quatro ou mais doses.


O Vigitel revela ainda que, entre 2006 e 2010, a proporção de brasileiros fumantes caiu de 16,2% para 15,1% entre 2006 e 2010. Em 1989, segundo o IBGE, 34,8% dos brasileiros fumavam.


Para o órgão, a obesidade, o tabagismo e o abuso de álcool são indicadores importantes no monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes e problemas cardíacos.


Obesidade


Segundo a Vigitel, 52,1% dos homens brasileiros e 44,3% das mulheres estão acima do peso. Em 2006, o Vigitel apontava excesso de peso em 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres.


O levantamento revela também que a variação na proporção de brasileiros que abusam do álcool reflete principalmente o aumento no número de mulheres que dizem exagerar na bebida: eram 8,2% em 2006 e passaram para 10,6% em 2010. Entre os homens, o índice passou de 25,5% a 26,8%.


Já o hábito de fumar caiu de 20,2% para 17,9% entre 2006 e 2010 entre os homens e, entre as mulheres, permaneceu em 12,7%.


O Vigitel é realizado anualmente desde 2006, em parceria entre o Ministério da Saúde e o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP).




Vídeo: Desafios da Copa 2014

Do Paradoxos da Bola (@paradoxosdb)





quinta-feira, 14 de abril de 2011

Educação fora dos trilhos

Da Folha



Alunos filmam suposta agressão de professor no RS




Um grupo de alunos da 5ª série filmou o momento em que um professor, que aparenta estar nervoso, segura uma colega e a empurra até a carteira em uma escola em Passo Fundo (292 km de Porto Alegre), no RS.


O caso ocorreu nesta quarta-feira (13) pela manhã na escola estadual Anna Luísa Ferrão Teixeira. O vídeo da suposta agressão foi publicado no YouTube.


A menina, de 11 anos, afirma que havia muita conversa na sala de aula e que o problema ocorreu depois que uma colega falou que chamaria a diretora. Segundo a aluna, o professor, que dá aula de ciências naturais, estava irritado com a bagunça.


"Eu estava indo até o lixo e minha colega falou que ia lá na direção. Nisso, ela abriu a porta e o professor pensou que era eu, começou a me sacudir e pegou pelo pescoço. Ele já estava aflito por causa da turma e pegou o primeiro que viu pela frente. Era eu quem estava mais perto", diz.


A aluna conta que o vídeo foi feito escondido pelo celular e que, após o incidente, o professor ficou em frente à porta por cerca de cinco minutos para que nenhum aluno saísse. Ela diz que também foi ofendida pelo professor. "Ele disse que minha mãe não me dava educação."


Ao ver o vídeo, a mãe da menina foi à polícia e registrou um boletim de ocorrência. Segundo Rosali Facco, 38, essa não é a primeira vez que o professor agride a filha e outros alunos. "Ele já tinha dado um tapa no rosto dela um mês antes e puxado a orelha de outros alunos. Fomos chamados no colégio, mas ele disse que jamais faria isso e que também tinha filhos dessa idade. Ficou a nossa palavra contra a dele."


O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.


Folha tentou localizar o professor, mas não conseguiu contato. De acordo com o delegado Mário Pezzi, responsável pelo caso, ele deve prestar depoimento na próxima semana.


A direção da escola não quis se manifestar. A Secretaria Estadual de Educação afirmou, por meio de nota, que está instaurando uma sindicância para avaliar a conduta do professor. Ele foi afastado de sua função até o fim das investigações.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Delfim Netto e as empregadas


Do R7



Delfim Netto compara domésticas a animais e recebe notificação de ONG


O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto comparou empregadas domésticas a animais em um programa de TV. Apesar de ele ter negado a intenção de ofender a categoria, a ONG Doméstica Legal enviou ao ex-ministro uma notificação extrajudicial (um documento enviado a ele por um cartório) pedindo retratação pública.


Delfim fez a comparação no último domingo (4) enquanto participava de uma entrevista no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Ele lamentou a queda na oferta do número de empregadas domésticas no mercado de trabalho enquanto analisava a ascensão de classes no Brasil.

- Há uma ascensão social incrível. A empregada doméstica, infelizmente, não existe mais. Quem teve este animal, teve. Quem não teve, nunca mais vai ter.

O presidente da ONG, Mario Avelino, afirmou ao R7 que o ideal é que Delfim vá novamente a um canal de televisão pedir desculpas.

- Não se chama 7 milhões de trabalhadores de animais. Ele foi muito infeliz na declaração.

Segundo Avelino, os trabalhadores terão o direito de pedir na Justiça uma indenização por danos morais caso a retratação não seja feita.

- Que sirva de exemplo para quem tem projeção pública. Que ele assuma a humildade do erro, ou as consequencias.

Para o presidente de ONG, Delfim não estava mal intencionado, mas precisa ter responsabilidade sobre as declarações que dá em público em razão dos diferentes níveis de instrução da sociedade.

- Honestamente, não acho que ele tenha dito por maldade, mas o linguajar comum entre os economistas não chega a todos os trabalhadores. Ao contrário: desvaloriza um trabalho que já é discriminado. Os domésticos têm o direito de se sentirem ofendidos. Recebemos e-mails exigindo que tomássemos uma providência.

R7 entrou em contato com a assessoria do ex-ministro, que até a publicação desta reportagem não retornou contato.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Acompanhando os tuítes do Diego Calazans sempre enriquecedores e fomentadores de debates inteligentes, pedi a ele que escrevesse sobre a "pauta" do momento: o Estado laico e políticos "teocratas". Vale a pena! Comentem. Vamos estimular a discussão.


O Estado laico e os políticos nem tanto


por Diego Calazans


Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim, o papel fundamental das religiões seria a separação, no universo compartilhado pelos membros de uma sociedade, entre a esfera profana e a sagrada. A dimensão profana é a área onde normalmente ocorre a vida social, está ligado ao cotidiano e ao previsível. Por sua vez, o sagrado é uma região nebulosa a partir da qual potências menos conhecidas agem ameaçando a regularidade das relações comuns. Caberia a pessoas especiais – geralmente os sacerdotes e os magos – a tarefa de negociar com as potências assombrosas do sagrado para garantir não apenas a manutenção da previsibilidade do mundo cotidiano como também benefícios que não podem ser obtidos pela manipulação de elementos mais conhecidos.


 


Com a modernidade, pouco a pouco a dimensão profana da existência social foi se expandindo, graças em grande parte aos avanços das ciências, relegando o sagrado a uma dimensão cada vez mais distante dos problemas comuns. Obviamente, nem todos os indivíduos compactuavam com esse afastamento do sagrado. Não raros voltaram suas costas às definições científicas e abraçaram suas convicções míticas com uma fúria pouco vista. Formou-se um enclave. De um lado, uma pressão para a redução cada vez maior do espaço do sagrado, até que ele foi confinado à esfera privada chegando a ser simplesmente obliterado por alguns. De outro, a resistência ferrenha dos que se recusavam a recolher suas crenças à inviolabilidade de seu lar e procuravam forçar o sagrado na direção contrária tentando garantir que suas crenças não deixassem de se tornar a matéria prima das leis civis. Esse conflito segue em nossos dias, dividindo seus partidários segundo seu entendimento de qual deve ser a relação entre a religião hegemônica (em nosso caso, o cristianismo) e o Estado. De um lado, o chamado laicismo defende a privatização do domínio religioso para que seja possível gerar um espaço público onde indivíduos de diferentes posturas religiosas não se enfrentem pelo monopólio da legítima relação com o sagrado. De outro, os teocratas lutam para que sua religião assuma o controle da máquina estatal construindo suas leis a partir dos princípios caros àquela. A maioria dos Estados nacionais está no meio termo entre essas posturas. Ainda que defendam formalmente o laicismo, flertam – e não raro trepam – com a teocracia em nome dos votos.


 


No Brasil, vivemos uma situação semelhante à maioria dos países de hegemonia cristã. Se, por um lado, nossa Constituição define nosso Estado nacional como laico, por outro a prática política cotidiana está longe do ideal da laicidade que deveria nos nortear. Digo “deveria” porque o Estado laico é o único capaz de garantir liberdades fundamentais que estão na base de qualquer democracia moderna, entre elas a liberdade de culto, a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão. Apenas o Estado laico admite a troca contínua entre a sociedade civil e as instâncias legais para modificar as leis de acordo com transformações na sensibilidade comum. Em países teocráticos, as leis estão vinculadas a preceitos religiosos. No caso das teocracias baseadas em religiões do livro, as leis são as mesmas aplicadas em contextos históricos diferentes, com prescrições de séculos passados servindo de base para punições contemporâneas. As sociedades modernas estão em contínua mudança, demandando que as leis do Estado moderno estejam abertas a reformas recorrentes. Isso só é possível em Estados laicos.


 


Somente o Estado laico garante o avanço das ciências sem que restrições religiosas impeçam investigações que ponham em dúvida suas concepções dogmáticas. Somente o Estado laico pode garantir a igualdade das mulheres em relação aos homens, uma vez que os teocratas – ao menos os cristãos, que é os que nos interessam aqui – tendem a estabelecer a superioridade “natural” dos homens sem dar margem para que as mulheres reivindiquem seus direitos sem risco de sofrerem punições exemplares segundo leis concebidas em outro continente há milênios. Somente o Estado laico pode garantir a igualdade racial como ficou claro durante os primeiros séculos de nossa História, quando a religião oficial legitimou a desumanização de seres humanos por conta de sua cor a partir de concepções teológicas difíceis de serem rebatidas porque vinham revestidas do caráter de verdade revelada. Somente o Estado laico pode garantir o direito à livre orientação sexual, uma vez que a religião hegemônica trata qualquer comportamento sexual que fuja a seu modelo estreito como passível de punição.


 


As vantagens do Estado laico sobre seu concorrente teocrático são incontáveis. Não nos deteremos a explicá-las aqui. Mais importante é considerar os atentados contínuos à laicidade do Estado que partem de indivíduos pagos pelos cidadãos para representá-los dentro do Estado laico. Os casos mais recentes envolvem deputados cristãos realizando declarações racistas e homofóbicas em redes sociais e em emissoras de TV – nesse último caso, lembremos, concessões públicas. O primeiro deles é o infame militar reformado Jair Bolsonaro (PP/RJ). Conhecido por sua defesa aguerrida da ditadura militar e suas frases marcantes como “o problema foi ter torturado e não ter matado”, sobre os prisioneiros políticos do período militar, ou “quem gosta de osso é cachorro”, essa última em direção a manifestações que exigiam a localização das covas onde foram enterrados os guerrilheiros do Araguaia. Em declaração recente exibida no programa CQC, Bolsonaro respondeu à cantora Preta Gil que nenhum filho seu namoraria com uma mulher negra porque foram todos “muito bem educados” e que tal relacionamento seria promiscuidade. Houve grande alarde e o deputado voltou atrás dizendo que havia ouvido errado e que entendera que Gil lhe perguntava sobre um namoro gay, não inter-racial. Homofobia não é crime no Brasil, racismo sim. Por isso evitar a todo custo ser considerado racista. Bolsonaro aproveitou para voltar a atacar os gays, como sempre fez, e se aproximou conscientemente de um tipo de eleitor que não é muito afeito ao princípio da laicidade. Ele não é o único.


 


O segundo deputado a dar declarações polêmicas recentemente foi o deputado Marco Feliciano (PSC/SP). De um partido que já traz “cristão” no nome, o político é pastor da Igreja Assembléia de Deus. Representa um eleitorado evangélico que tem ganhado força e voz. Parece não conseguir conciliar suas funções de sacerdote e deputado. No twitter, fez um comentário associando o que ele considerava como as mazelas do continente africano a uma suposta maldição lançada por Noé à descendência de um de seus filhos, por um suposto ato homossexual; e esse filho amaldiçoado viria a ser, segundo o deputado-pastor, o antepassado de todos os africanos. Feliciano mesclou em sua declaração fartas doses de racismo, homofobia e discriminação de religiões não-cristãs. Quando questionado por suas posições, assumiu postura de vítima e disse ter sido até mesmo ameaçado de morte – mas não apresentou as tais ameaças. Tanto Feliciano quanto Bolsonaro se opõem firmemente à criminalização da homofobia. Seus “argumentos” contra os gays são todos de origem religiosa. Em um Estado verdadeiramente laico, esses “argumentos” sequer são cabíveis, uma vez que toda contribuição política deve ser feita a partir de preceitos válidos para todos os indivíduos e não apenas para os adeptos de determinado culto. Em outras palavras, não é possível obrigar quem não segue determinada a crença a obedecer as regras da crença em questão. É um princípio básico do Estado laico.


 


Os ataques teocráticos aos gays seguem numerosos, como uma afronta à constituição que determina o afastamento entre Estado e religião. Recentemente, cristãos fanáticos derrubaram o site de uma importante associação brasileira de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (doravante denominados GLBT), espalhando mensagens homofóbicas e de apoio ao deputado Jair Bolsonaro. Uma das frases pede Bolsonaro como presidente do Brasil. Assustador. Infelizmente, os ataques virtuais ao movimento gay não pararam aí. Um dos filhos de Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro pelo mesmo partido do pai, postou no twitter um link levando para uma suposta mensagem pró-pedofilia que teria sido escrita por um importante militante do movimento gay – apresentado erroneamente como propositor da lei anti-homofobia. Bastou uma checada no Google para ver que a mensagem era falsa, construída por fundamentalistas cristãos para associar o movimento gay à defesa do abuso sexual de crianças de modo a fomentar o ódio pelos GLBT. Um dos caluniadores chegou a afirmar que as crianças seriam “o próximo alvo dos homossexuais”. Esses exemplos são mostras claras de como um movimento religioso fanático pretende interferir de modo ilegítimo em um tema cuja discussão deve ser feita dentro dos preceitos do Estado laico.


 


Para completar, um site anunciando um novo partido a se formar pôs vários defensores do Estado laico em alerta. O partido tem por nome oficial “Partido Republicano Teocrata Cristão” e defende a abolição de todas as leis vigentes para que sejam substituídas pelas leis estabelecidas na Bíblia. Em outras palavras, o partido propõe o fim total do Estado laico e a criação de um Estado teocrático no Brasil. Deixo aos leitores o desprazer de fuçar no blog do PRTC suas propostas para o país – que envolvem até mesmo a pena de morte para o sexo fora do casamento, o homossexualismo e a crença em outra religião.


O simples fato de tal proposta existir, associado às declarações e atos de fanáticos religiosos que lutam para impor seus preceitos aos infiéis, deveria acender uma luz alaranjada, quase vermelha. O Estado laico é uma conquista imprescindível da modernidade. Não podemos abrir espaço para que ele seja questionado e a religião hegemônica volte a ser a religião oficial, como nos tempos pré-republicanos. Ainda não temos um Estado plenamente laico, como pode ser visto nas declarações políticas carregadas de tons teológicos, nos feriados religiosos serem sempre católicos, nos acordos com o Vaticano, na educação religiosa nas escolas públicas ser sempre cristocêntrica, no fato de padres serem chamados para benzer obras públicas, nas concessões de emissoras de rádio e televisão a missionários cristãos etc. Contudo, isso deve nos instigar a corrigir os resquícios de teocracia que enlameiam nossa política. Para tanto não basta tirar símbolos cristãos de espaços estatais; é preciso também garantir a pluralidade religiosa – não a pluralidade cristã, com suas inúmeras denominações disputando por almas, poder e dinheiro, mas a pluralidade real, colocando religiosidades não-cristãs no mesmo nível de participação das cristãs. O Estado brasileiro deveria investir na divulgação de religiões não-cristãs, particularmente as não-abraâmicas, as que não possam ser traduzidas pelos cristãos como protocristianismos. Quanto mais religiões inconciliáveis estiverem disputando de igual para igual a convicção dos devotos, menor a chance de que uma delas se torne hegemônica e atente contra o Estado laico para se tornar a religião oficial. Somente o pluralismo religioso garante a liberdade religiosa e o Estado laico que possa sustentar tal liberdade.


 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Comida estragada de crianças

Do Estadão



'Máfia da merenda’ pagou propina em 57 prefeituras e 2 governos estaduais


Segundo pivô do esquema, empresário Genivaldo Marques dos Santos, pagamentos irregulares para obter contratos teriam ocorrido em cidades administradas por diferentes partidos; citados negam denúncias, feitas mediante acordo de delação premiada

O empresário Genivaldo Marques dos Santos, pivô da chamada "máfia da merenda", relatou ao Ministério Público Estadual (MPE) supostos pagamentos de propinas e doações ilegais para campanhas eleitorais em pelo menos 57 cidades e dois governos estaduais. Entre elas estão quatro capitais, além de municípios administrados por diversos partidos. O empresário fornece informações a promotores desde 2006 em troca da redução da pena (delação premiada).






Estado publicou no sábado reportagem revelando depoimentos do empresário ao Ministério Público com detalhes do funcionamento do suposto esquema na capital, envolvendo três gestões - de Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab.

A "máfia da merenda" atuaria também em Recife e Diadema, São Luís (MA) e Carapicuíba, Taubaté, Marília, entre outras. Há ainda pelo menos um deputado federal entre os citados: Abelardo Camarinha (PSB-SP). Todos os citados alegam inocência e negam as acusações feitas pelo empresário por meio de acordo de delação premiada.

Estado teve acesso a sete dos depoimentos prestados pelo empresário desde 26 de março de 2006. Logo no primeiro deles, Santos contou detalhes sobre o suposto esquema de propinas em troca da terceirização da merenda em sete cidades. Além de São Paulo, o empresário afirmou que a propina era paga diretamente para Fuad Gabriel Chucre (PSDB), então prefeito de Carapicuíba, e para Mário Bulgareli (PDT) e seu antecessor na prefeitura de Marília, o deputado federal Camarinha.





 

domingo, 3 de abril de 2011

Bombeiro preso por reclamar de falta do Estado

Do g1

Bombeiro é preso em AL após reclamar de falta de estrutura


Secretaria de Defesa Social determinou prisão administrativa de três dias.
Major fez desabafo após caminhão ficar sem água durante fogo em pavilhão.





O major do Corpo de Bombeiros Militar Carlos Burity foi preso neste domingo (3) em Maceió por determinação da Secretaria de Estado da Defesa Social. O bombeiro reclamou da falta de estrutura durante o combate ao incêndio que atingiu no sábado (2) o Pavilhão do Artesanato, na praia de Pajuçara.






O bombeiro está recolhido no quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros. A prisão administrativa está prevista para o período de três dias.


No sábado (2), enquanto o Corpo de Bombeiros trabalhava para controlar o fogo que atingiu o Pavilhão do Artesanato, acabou a água do caminhão tanque e foi necessário esperar vários minutos, enquanto as chamas se alastravam, até que caminhões-pipa chegassem ao local.

Após controlar o incêndio, Buriti fez um desabafo e disse que a corporação precisa de investimentos. "Há 16 anos não tenho condições de trabalho. O capacete é meu", disse.


Segundo a assessoria da Defesa Social, o secretário Dário César orientou o recolhimento do oficial em caráter de prisão disciplinar por "descumprir regulamento interno" ao colocar assuntos da corporação em público, sem autorização.


Por meio do Twitter, o secretário postou uma mensagem neste domingo (3) defendendo a hieraquia militar: "As org militares são fundadas na hierarquia e disciplina através dos séculos. Qualquer tentativa de sua inobservância tem q ser reprimida!”, disse ele em seu microblog na internet.

Depois de receber a voz da prisão, foi o próprio oficial quem resolveu 'noticiar', também no Twitter, a sua prisão. "Decência, personalidade, capacidade! Repressão é termo usado na ditadura! Cumpro determinação e me encontro preso junto com meu filho no QCG", postou.

Na noite deste domingo, Burity continuava a postar mensagens no microblog, dizendo ter recebido diversas mensagens de apoio, inclusive de autoridades da PM. “Tá tudo sob controle! Tô bem! Fiquem tranquilos!”, escreveu.


Além da prisão administrativa, o bombeiro deverá responder a uma sindicância.


A prisão causou desconforto no Corpo de Bombeiros. “Nós só estamos obedecendo ordens”, disse o capitão Gilmar Seara, coordenador de operações. Segundo ele, muitos colegas do major questionaram a decisão.



Acidente no Playcenter fere 8

Esse é o brinquedo em que as pessoas se acidentaram:







Do Estadão



Acidente no Playcenter fere ao menos oito em SP


Segundo informações iniciais dos bombeiros, da PM e de crianças que estavam no local, a trava do brinquedo Double Shock abriu e os ocupantes caíram






Acidente por volta das 18h deste domingo, 3, no parque de diversões Playcenter, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, deixou pelo menos oito feridos. Segundo informações iniciais dos bombeiros, da Polícia Militar e de crianças que estavam no local, a trava do brinquedo Double Shock abriu e os ocupantes caíram.

O brinquedo tem duas gôndolas que giram e balançam 360 graus e em sentido horário e anti-horário, a uma altura de 12 metros. A trava de segurança vem das costas e fecha na altura da cintura. Em uma das fileiras do Double Shock, esse equipamento abriu, o que fez com que as pessoas caíssem de uma altura de cerca de sete metros.

Segundo o Samu, foram enviadas dez ambulâncias para a Rua José Gomes Falcão, onde fica o parque. Sete feridos foram levados ao Hospital Metropolitano, na zona oeste, e uma mulher de 30 anos com ferimento na cabeça foi para a Santa Casa de Misericórdia, na área central. No momento do acidente, houve uma grande correria das crianças. O brinquedo foi isolado e o Playcenter, fechado, com as pessoas sendo obrigadas a se retirar imediatamente. Até o início da noite, no entanto, centenas de crianças ainda esperavam no estacionamento do Playcenter para pegar o ônibus que levava até o metrô Barra Funda

A vendedora Kamyla Marques, de 21 anos, esperava por volta das 20 horas por notícias de quatro amigos que haviam sofrido o acidente. Ela também estava no brinquedo no exato momento da pane, mas sua trava de segurança não abriu. “A gente não sabe de nada, colocaram todos para fora sem dar satisfação”, diz ela. “Só sabemos que são nossos amigos porque eles estavam no brinquedo na hora do acidente, e uma outra colega viu um deles com a cabeça sangrando.”

A autônoma Cione Ramos, de 34 anos, disse que tentou duas vezes ir no brinquedo, mas que ele esteve momentaneamente fechado para manutenção técnica. “Foi uma bênção de Deus, poderia ter sido eu”, diz ela, que foi ao Playcenter com dois filhos e amigos.




Tempestade de areia

Do Portal Luís Nassif

Você já viu uma tempestade de areia?







At approximately 5.30 PM (GMT +3) a dust storm swept through Kuwait turning the setting evening sun to immediate darkness reaching 0 visibility in mere minutes. What first seemed to be smoke from a burning building, everyone soon started running for cover. Here's one of the first glimpse of, ironically, a rare spectacle, considering the location of the country! (Sorry about the language used ! And please refrain from commenting about the accent. Everyone is brought up in there own surroundings and are influenced by the people around them. Don't Be Racist)

Em aproximadamente 17:30 (GMT +3) uma tempestade de poeira varreu Kuwait volta do sol para a escuridão à noite definição imediata atingindo 0 visibilidade em meros minutos. O que inicialmente parecia ser o fumo de um prédio em chamas, logo todos começaram a correr para se esconder. Aqui está um dos primeiro vislumbre de, ironicamente, um espetáculo raro, considerando a localização do país! (Desculpem a linguagem usada! E por favor abstenha de comentar sobre o sotaque. Todo mundo é criado na sua própria atmosfera e são influenciados por pessoas que o rodeiam. Não ser racista)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Figurinha antiga

Vídeo extraído do Conversa Afiada mostra o deputado Jair Bolsonaro chamando de vagabunda a então deputada do PT, Maria do Rosário, hoje ministra da Secretaria dos Direitos Humanos. Isso foi em 2008. No mesmo vídeo, o nobre parlamentar ainda ameaça bater nela.